Viajando Sem Lactose: Cuba

Olá,

Viajar é uma das melhores coisas do mundo, não é mesmo?

Conhecer novas culturas, ver paisagens diferentes e curtir o ritmo de férias é realmente um sonho! 

Mas para quem tem restrições alimentares ou para quem sofre com a síndrome do intestino irritável, a ideia de sair da rotina e do conforto de casa sem ter ideia do ambiente e das situações que vai encontrar pode, na prática, se transformar em um momento de desespero!

Isso não quer dizer que intolerantes não gostam de viajar e nem que deixamos de aproveitar esses momentos, apenas quer dizer que é necessário um certo nível de preparação para que possamos ficar tranquilos e seja possível realmente curtir a viagem. 

Para mim, sair sem nenhum planejamento acaba gerando o ciclo da dor de barriga: se eu fico preocupada sem saber se terei como comer em segurança minha SII ataca --> com isso eu passo mal e a minha tolerância aos alimentos que me fazem mal diminui ainda mais --> o que quer dizer que preciso ter ainda mais cuidado com o que vou comer --> o que gera ainda mais preocupação... e o ciclo recomeça com intensidade cada vez maior. Definitivamente é melhor não seguir por esse caminho.

Para evitar o preocupação, eu sempre levo algumas comidas de backup e tento pesquisar um pouco sobre possíveis opções de alimentação no local. 

Hoje eu retribuo à essa coisa linda chamada internet um pouco de tudo que eu pesquisei, observei e vivenciei. 

Nesse post estão compiladas as minhas experiências de viagem sem lactose em CUBA, um país realmente lindo, muito rico culturalmente e que vale a pena visitar!

Foi uma viagem de 10 dias por Havana, Santa Clara, Cayo Santa María e Trinidad. O deslocamento interno foi feito de ônibus da empresa cubana Viazul (ônibus intermunicipais comuns). 

PANORAMA

A culinária cubana é uma mistura de diversas influências, predominando elementos da culinária espanhola e africana. Os ingredientes utilizados e a combinação dos pratos lembram a culinária brasileira. Os temperos mudam um pouco, o que dá o sabor de passar por uma experiência gastronômica diferente.

Arroz, feijão, raízes (mandioca, batata doce, inhame) e frutas são usados com fartura e há também uma grande abundância de frutos do mar. Na maioria dos restaurantes que visitei havia pelo menos um prato que atendesse as minhas necessidades mais básicas: comida sem lactose e sem glúten. 

Camarões deliciosos, mas essa batata doce de acompanhamento foi uma das melhores que já comi!

Além disso, achei os sabores e temperos suaves: não há comidas extremamente apimentadas ou condimentadas como na culinária mexicana ou indiana, o que é bom para a galera da SII.

Em alguns restaurantes mais turísticos vi opções de pratos vegetarianos e/ou veganos.

ALMOÇO E JANTAR

Em Cuba, essas foram as refeições mais fáceis de comer em segurança. Os produtos lácteos estão presentes no dia-a-dia dos cubanos, mas não são muito abundantes na ilha. Há muitas opções de iguarias sem eles. 

Boa parte dos pratos típicos são naturalmente isentos de leite e glúten, por isso minha dica é procurar restaurantes que ofereçam pratos da culinária local e se alimentar bem nessas refeições para diminuir a necessidade de lanches intermediários.

Alguns pratos para comer em segurança:

1) Ropa Vieja

Carne desfiada com vegetais (cebola, pimentões, tomate, etc - pode variar dependendo da receita). Os acompanhamentos dependem do local, mas a maioria vem com arroz, alguma raiz ou banana da terra cozidas ou fritas e algum tipo de salada.

Quase todo restaurante tem a sua versão do ropa vieja. É um PF de respeito, que mata a fome e dá para pedir sem medo.

Ropa Vieja em 3 restaurantes diferentes

2) Vaca Frita

Arroz Congrí com abóbora, repolho e carne

Carne desfiada refogada com bastante cebola. Muito parecido com o Ropa Vieja, apenas os temperos mudam um pouquinho.
Também costuma vir acompanhado de arroz, feijão e alguma salada.

3) Arroz Congrí

Nada mais é do que o nosso clássico arroz com feijão, mas já vem misturado e tem um tempero um pouco diferente. Normalmente o prato vem acompanhado de salada e alguma carne grelhada ou ensopada.


Em alguns restaurantes os cardápios indicam quais pratos contém glúten e/ou leite. Apesar disso, alérgicos e celíacos devem sempre conferir no local se esses pratos são livres de contaminação cruzada. Tive a impressão de que a maioria não é!

CAFÉ DA MANHÃ

Assim como no Brasil antes da chegada massiva dos produtos específicos para quem tem restrições alimentares (pães e biscoitos sem leite e sem glúten, iogurte zero lactose, etc), o café da manhã é uma refeição que exige atenção.

Apesar da combinação tradicional de pão com leite estar em praticamente todos os lugares, com um pouco de conversa e olhar atento aos cardápios é fácil se manter muito bem alimentado. 

Na maioria das cidades que visitamos, optamos por ficar em casas de cubanos (reservadas via airbnb), então não tivemos acesso aos cafés da manhã de hotel. Em alguns dias comemos o café da manhã servido pelo anfitrião e em outras ocasiões comemos na rua.

Com os anfitriões, conversamos sobre minha restrições e sempre houve alternativas: frutas, ovos, suco natural e café. Comi muito bem em todas as ocasiões!

Vários restaurantes e lanchonetes abrem para café da manhã e na maioria é possível olhar o cardápio antes de entrar, então escolhemos locais que ofereciam opções como saladas de frutas, raízes cozidas e omeletes ou ovos mexidos.

Alguns restaurantes trabalham com combos de café da manhã. Normalmente vem frutas e ovos mas também pães e bolos. 

Se você estiver viajando com outras pessoas que não tem restrição e estão dispostas a te dar uma ajuda, sua companhia de viagem pode trocar algumas frutas pelo seu pão com queijo, por exemplo. Todo mundo fica de barriga cheia e nenhuma comida é desperdiçada!

Combo de café da manhã em restaurante

Aliás, pausa para uma dica valiosa para a vida: tenha amigos que comem sua comida quando você precisa e que te dão a comida deles quando eles tem algo você pode comer! 😂

LANCHES

Batatas Fritas e Maní Molido (Paçoca)

É nessa hora que a porca torce o rabo! Lanchonetes e padarias estão cobertas de glúten e leite e não há produtos para dietas "especiais". Com isso, a gente se dá conta que a solução está nas coisas simples... nesse caso, na comida de verdade!

Nas ruas é possível encontrar alguns snacks amigáveis, como batatas fritas e pipoca. Há também barracas e ambulantes vendendo frutas: aproveite as mangas, goiabas, bananas e cocos! Encontrei também alguns alimentos a base de amendoim, como amendoim torrado e uma espécie de paçoca. 

Nas viagens de ônibus, frutas para matar a fome!

Comprar frutas é uma ótima opção porque além de saborosas, são saudáveis e baratas. Dependendo da fruta será necessário um pouco de planejamento, já que pode precisar cortar ou descascar e ter um potinho para carregá-la pronta para consumo.

Para diminuir o risco de ficar com fome,  carrego na bolsa alguma opção de lanche: castanha, fruta, chocolate ou biscoito que posso comer. Costumo ter um pequeno estoque de coisas pouco perecíveis, que posso levar mas não preciso consumir exatamente no dia. Assim, o estoque pode ser usado ou não, dependendo do que eu encontrar no caminho.

DRINKS

Há lugares nos quais as principais opções de drinks usam leite condensado ou creme de leite. Cuba não é um desses lugares! Os famosos daiquiri, mojito, cuba libre e sangria são totalmente seguros para que tem intolerância à lactose. 

Se suspeitar de alguma variação nos ingredientes, confirme com o garçom, mas no geral não há com o que se preocupar. Aproveite! Apenas lembre-se de pedir sem o canudinho para não gerar lixo. ;)

Com uma praia dessas, nem preciso comer...

RESORT ALL-INCLUSIVE

Nossa única parada em hotel foi uma estadia de poucos dias em um dos all-inclusive que abrigam os turistas nas belas praias cubanas: o Valentín Perla Blanca, em Cayo Santa María.

Tanto no café da manhã quanto no almoço e jantar havia muitas opções naturalmente sem lactose e sem glúten. O buffet é daqueles que tem de tudo que se possa imaginar e tudo em grandes quantidades.


No café da manhã há desde as opções mais comuns como frutas, ovos, omeletes até outras menos esperadas como arroz, batata, pimentão e carne. De comidas "adaptadas" para dietas especiais, havia apenas a opção de leite sem lactose (procure por leche sin lactosa).

No almoço e jantar a variedade de saladas, pratos com vegetais, grãos, carnes e frutos do mar é enorme. Sabendo escolher, é possível comer muito bem e variar a cada dia!

A sobremesa é a parte mais sacrificada, já que quase todas as tortas, bolos e cookies aparentavam ter leite E glúten, mas ainda assim havia opções de frutas frescas e em calda. 

Para quem é alérgico ou celíaco, caso se hospedem em all-inclusive recomendo fortemente que entrem em contato com o hotel com antecedência para saber se é possível ter acesso a refeições seguras.  

Buffet cheio de comidas com glúten e leite é praticamente sinônimo de contaminação de tudo que está ali. Como os hotéis são isolados e não há opções de outros restaurantes ou mercados, é essencial garantir que eles terão condições de atender essas necessidades.

É importante deixar claro que eu não sou alérgica e nem celíaca, então a contaminação cruzada não é problema pra mim, pois esporadicamente até consigo comer pequenas quantidades dos alimentos que evito. Por isso, sempre que possível prefiro apenas escolher opções que me atendem e não solicitar explicitamente refeições especiais. 

Afinal quando alguém como eu faz um pedido especial sem leite e sem glúten e depois decide tomar enzima lactase para comer um pedaço de queijo ou rouba um pedacinho do pão do prato do marido, os estabelecimentos podem enxergar a dieta como algo opcional ou entender que "um pouquinho não faz mal". Isso é péssimo para quem realmente precisa que a refeição seja 100% segura quando faz um pedido especial à cozinha!


💣ALERTA À GALERA DA SII 
Apesar da culinária cubana ser bem amigável às nossas necessidades, caso você esteja em uma fase crítica da SII, ainda passando mal com frequência, não recomendo viajar à Cuba por outro motivo: a disponibilidade de banheiros não é das melhores.

Não há muitos banheiros públicos e na maioria dos prédios turísticos e restaurantes há uma pessoa "cobrando" para que você use o banheiro, o que quer dizer que se você não tiver trocado para pagar vão fazer cara feia para você. 

Além disso, mesmo nos locais que cobram, os banheiros não são muito bons: em muitos o papel higiênico é limitado, não há descarga nem água para lavar as mãos, são sujos ou não tem tranca nas portas. Enfim, são acessíveis e resolvem em casos de emergência, mas não são locais onde é possível se sentar calmamente e esperar a crise passar. 😂

Por isso, minha dica é: não deixe de visitar Cuba, pois é uma viagem fantástica, mas vá em uma época em que a SII estiver sob controle para não passar por stress desnecessário.

Tenho certeza quase absoluta que só intolerantes reparam em um caminhão desses quando estão passeando

=)