O leite é um alimento muito comum e amplamente utilizado no
nosso dia-a-dia, mas para algumas pessoas ele pode ser um pesadelo devido a
reações causadas pela sua ingestão, que podem ser decorrentes de: Intolerância
à Lactose ou Alergia à Proteína do Leite. Embora ambas tenham em comum o
alimento que as causa, os mecanismos são diferentes e os cuidados também são
específicos para cada caso. Por isso, acho legal entender um pouco mais sobre a
IL e a APLV. Vou focar mais na IL porque é o que eu tenho e por isso acabo me
interessando mais, mas vou dar uma “pincelada” na alergia a proteína do leite para
explicar as diferenças.
O texto ficou um pouco grande, mas acho que vale a pena ler até o final. Para quem chegar lá tem uma curiosidade (in)útil.
– Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não sou médica,
nutricionista, nem sou de qualquer profissão da área de saúde. Todas as
informações contidas nessa postagem (e em outras desse blog) se baseiam nas
minhas experiências de intolerante a lactose, pesquisas na internet e em livros, conversas com
profissionais e conversas com outras pessoas que possuem intolerâncias
alimentares. De forma alguma, essas informações substituem o acompanhamento ou
orientação médica. Além disso, eventuais correções ou novas informações são
bem-vindas –
Entendendo a IL
O que é a lactose?
A lactose é o “açúcar” do leite. É um carboidrato formado
pela junção de dois carboidratos menores: glicose e galactose.
E o que é a intolerância à lactose?
A IL acontece quando o organismo não produz ou produz em quantidade
insuficiente a enzima lactase, que é a responsável por digerir a lactose,
quebrando-a em glicose e galactose.
Fonte da imagem:
http://www.wiley.com/college/boyer/0470003790/cutting_edge/lactose_intolerance/lactose_intolerance.htm
A glicose e a galactose, que são carboidratos simples, são
absorvidas para a corrente sanguínea e daí em diante desempenham suas funções no
organismo. A lactose, por outro lado, por ser um carboidrato mais complexo, não
é absorvida em sua forma natural e permanece no intestino se não for “quebrada”
através da ação da lactase. Com isso:
- O intestino torna-se um ambiente hipertônico, o que faz
com que água seja absorvida para dentro dele através da osmose. O excesso de
água acaba por causar a diarreia.
- A lactose é fermentada por bactérias presentes na flora
intestinal, e nesse processo são gerados gases e ácidos orgânicos. O excesso de gases produz a sensação de
inchaço, flatulência, dores abdominais, entre outros sintomas de má digestão.
E por que o organismo não produz lactase?
Bom, pelo que tenho pesquisado, a incapacidade do organismo
em produzir lactase pode ser resultante de doenças intestinais que tenham
danificado a mucosa do intestino e com isso, as células responsáveis pela
produção da lactase (chamado de IL secundária), ou pode ocorrer uma diminuição natural da produção de
lactase ao longo da vida, determinada por fatores genéticos (chamado IL primária).
Na secundária, normalmente a intolerância é temporária e
a produção de lactase é reestabelecida após a recuperação dessas células. Dependendo
da gravidade do caso, entretanto, pode ser que o dano seja permanente.
Na primária, o quadro provavelmente é permanente, mas é
comum que pequenas quantidades de lactose sejam toleradas. Essa quantidade
varia de pessoa para pessoa e mesmo para cada indivíduo pode variar ao longo do
tempo, pois fatores como o estado emocional, qualidade de vida e alimentação
influenciam a quantidade de lactase produzida.
Quais são os principais sintomas?
Alguns desconfortos causados pela IL são:
- Diarreia (ou às vezes constipação)
- Dor abdominal;
- Inchaço abdominal;
- Gases / Flatulência;
E o que pode ser feito para melhorar a IL?
A forma mais simples que aprendi: parar de consumir lactose.
A IL não vai sumir, mas o desconforto vai. Nesse ponto, é importante cada um
testar seus limites, pois enquanto algumas pessoas, mesmo com IL, ainda podem
consumir pequenas quantidades de leite e derivados sem apresentar desconforto,
outras apresentam reações fortíssimas mesmo com a ingestão de quantidades
mínimas.
Utilizando meu caso como exemplo: ao descobrir minha IL eu
cortei da minha alimentação basicamente o leite em si, sorvetes cremosos, leite condensado e creme
de leite, mas conseguia comer tranquilamente queijos, manteiga e bolos ou pães
produzidos com leite (sem excessos, claro). Recentemente, percebi que minha
tolerância diminuiu e esses itens já não são mais tão inofensivos pra mim. Será
que eu vou poder voltar a consumir pequenas quantidades de lactose sem
problemas? Pode ser, pois no momento estou em uma fase crítica, inclusive
investigando outros possíveis problemas além da IL, mas isso eu só descobrirei
com o tempo.
Além disso, há a opção da ingestão da enzima lactase (encontrada atualmente em pó ou em comprimidos, mas depois falo dela com mais detalhes) junto com o consumo de produtos que contenham lactose para que ela atue na digestão, como nossa própria lactase atuaria, se fosse produzida pelo organismo em quantidade suficiente. Embora haja uma medida que indica o quanto de lactose pode ser consumida depois de cada dose, o que eu aprendi na prática é que também nesse caso é importante cada um testar e conhecer seu limite para garantir que não irá passar mal, pois uma pessoa que produz pouca lactase precisará suplementar menos do que outra que não produz nenhuma lactase, por exemplo. Atualmente, a alguns alimentos lácteos, é adicionada a enzima durante o processo produtivo, de forma que eles já chegam ao mercado sem lactose ou com lactose reduzida.
O uso de probióticos (alimentos que contém micro-organismos
vivos em sua composição) também beneficia os intolerantes a lactose, pois além
de promover o equilíbrio da flora intestinal e consequente integridade das
células do intestino, as bactérias benéficas ao organismo, contidas nos
probióticos usam a lactose (dentre outras coisas) em seus processos naturais,
consumindo parte desse carboidrato que permaneceria no intestino.
Mas é sempre muito importante que qualquer diagnóstico e consequente tratamento seja orientado e acompanhado por um profissional qualificado para tal.
Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)
A alergia a proteína do leite de vaca é uma reação do sistema
imunológico que identifica a proteína do leite como uma substância estranha e
produz anticorpos e/ou células inflamatórias para combatê-la. Em decorrência
dessa reação, a pessoa pode apresentar sintomas gastrointestinais (cólicas,
diarreia, vomito, dificuldade para engolir, entre outros), de pele (coceira nos
olhos e na pele, urticária, inchaço de olhos e lábios, etc), respiratórios
(coriza, obstrução nasal, tosse, respiração difícil) ou gerais (baixo ganho de
peso, anafilaxia, que em casos graves pode culminar com o fechamento da
garganta).
No caso da alergia, às vezes a reação ocorre especificamente
com a proteína do leite de vaca e a pessoa pode não ter reações com outros
leites animais (como o de cabra ou outro), entretanto, como as proteínas não
são tão diferentes assim, é comum que qualquer leite animal desencadeie a reação
e por isso é muito importante orientação e acompanhamento médico.
Para quem tiver interesse em saber mais sobre a APLV, essa
cartilha é muito boa. Foi de onde tirei a maioria das informações sobre APLV e
é bem mais completa do que minha breve descrição:
http://www.alergiaaoleitedevaca.com.br/_download/folheto_aplv_escolas.pdf
http://www.alergiaaoleitedevaca.com.br/_download/folheto_aplv_escolas.pdf
IL x APLV
Os sintomas às vezes são confundidos, pois os distúrbios
gastrointestinais podem ocorrer em ambos casos, entretanto os motivos pelos
quais ocorrem são diferentes e enquanto a IL se restringe a esses sintomas, a
APLV pode ter vários outros, como citados anteriormente.
A regra básica para os cuidados é que no caso da APLV, é necessário que o leite de vaca seja completamente excluído da dieta pois até pequenos traços podem desencadear a reação alérgica. Já na IL, produtos elaborados com leite, mas com zero ou baixa lactose (dependendo do nível de intolerância) podem ser consumidos e normalmente também não é necessário se preocupar com a contaminação cruzada, ou traços de leite, pois isso não causa desconforto (exceto em casos muito graves).
Quem está buscando mais informações sobre a contaminação
cruzada com leite, pode também consultar a cartilha que mencionei acima, que
contém várias orientações e dicas para evitar que isso aconteça.
Outra informação interessante é que a APLV é mais frequente
em crianças e rara em adultos, pois é comum sumir conforme as crianças crescem
e a IL é muito mais comum em adultos e idosos do que em crianças. Estima-se que cerca de 70% da população adulta seja intolerante a lactose em algum nível.
Bom, espero que esse texto ajude esclarecer algumas dúvidas. Mas antes de finalizar, um momento de descontração com uma curiosidade
bombástica extraída do blog Gastroenterologia Pediátrica e Nutrição
(http://gastropedinutri.blogspot.com.br/2014/02/intolerancia-lactose-historia-genetica.html):
“A Foca, Zalphus californianos, constitui uma exceção entre os mamíferos, posto que seu leite não possui Lactose e nenhum outro carboidrato, e a glicose encontrada no sangue dos filhotes durante o período da amamentação é derivada primariamente do glicerol da gordura do leite da foca.”
(http://gastropedinutri.blogspot.com.br/2014/02/intolerancia-lactose-historia-genetica.html):
“A Foca, Zalphus californianos, constitui uma exceção entre os mamíferos, posto que seu leite não possui Lactose e nenhum outro carboidrato, e a glicose encontrada no sangue dos filhotes durante o período da amamentação é derivada primariamente do glicerol da gordura do leite da foca.”
Agora que acabei de descobrir isso, por favor, “alguém me
amassa, porque tô passada”!
Pesquisando um pouco mais sobre essa curiosidade que me intrigou bastante, achei esse site
(http://www.wiley.com/college/boyer/0470003790/cutting_edge/lactose_intolerance/lactose_intolerance.htm)
que diz que além das focas, outros mamíferos marinhos como as morsas e leões marinhos também produzem leite sem lactose, devido à falta de uma substância necessária para síntese da lactose quando o leite está sendo produzido.
Pesquisando um pouco mais sobre essa curiosidade que me intrigou bastante, achei esse site
(http://www.wiley.com/college/boyer/0470003790/cutting_edge/lactose_intolerance/lactose_intolerance.htm)
que diz que além das focas, outros mamíferos marinhos como as morsas e leões marinhos também produzem leite sem lactose, devido à falta de uma substância necessária para síntese da lactose quando o leite está sendo produzido.
O mesmo site ainda relata que em 1933, um bebê morsa que estava sendo transportado do Alasca para a Califórnia foi alimentado com leite de vaca e apresentou diarreia grave, pois esses animais não produzem lactase, já que não consomem lactose.
**Tadinho do bebê morsa**
Manhêêêêêêê, tô com dor de barriga! |
Então amigos, vemos que não estamos sós na natureza. Focas, morsas e leões marinhos aparentemente nos acompanham na IL!
Se é mesmo assim, eu não sei dizer.
Aqui http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2364254 aparece um pequeno percentual de lactose no leite de uma determinada espécie de foca, mas controvérsias a parte, achei bem interessante. Alguém sabe mais sobre esse assunto?
E aliás, onde compra leite de foca, de morsa ou de leão
marinho? Se eu não descobrir, terei que fazer como o Mussum? =P
Abraço a todos!
=)
Fontes desse post:
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Além de muitas conversas...
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